A pegada ambiental dos sacos de plástico é menor do que a dos sacos de papel ou de algodão, conclui estudo da Deco Proteste e outras associações europeias. A mesma análise indica que os sacos de algodão biológico são (ainda) piores do que os de algodão convencional. Os resultados vêm na mesma linha de estudos anteriores.
Um estudo realizado em Portugal pela Deco Proteste e por congéneras suas em Espanha, Itália e Bélgica tentou perceber o ciclo de vida dos vários tipos de sacos disponibilizados nos supermercados, para ajudar os consumidores a tomarem as opções mais sustentáveis. As conclusões podem surpreender muita gente, que descartou os sacos de plástico devido aos seus efeitos no Ambiente.
“Analisámos o número mínimo de vezes que os sacos [de diferentes materiais] devem ser reutilizados para poderem ter um impacto ambiental igual ou inferior ao dos sacos de plástico que só são usados uma vez, e verificámos que não há bom nem mau, há melhor e pior. Temos de perceber o nosso perfil enquanto consumidor”, explica à VISÃO Elsa Agante, Team Leader de Energia e Sustentabilidade, da DECO PROTESTE.
A pior opção é o trolley de compras – a menos que se consiga utilizá-lo mais de 742 vezes. Este tipo de sacos com rodas tem maiores impactos ambientais, nomeadamente nas alterações climáticas e toxicidade, ao longo de todo o ciclo de vida. Fazendo as contas, se for diariamente ao supermercado com o trolley, precisará de dois anos e doze dias para compensar, do ponto de vista ambiental.
Se, em alternativa, optar por um saco de algodão, tem de utilizá-lo 101 vezes para que seja mais sustentável do que um simples de plástico, já que requer mais material e mais energia para ser fabricado. Pior se for um caso de algodão biológico: tem uma pegada ecológica 149 vezes maior do que um de plástico (uma vez que este tipo de agricultura não utiliza fertilizantes nem pesticidas sintéticos, tem uma menor produtividade, pelo que necessita de mais 30% de área de cultivo, aumentando o seu impacto em termos de recursos e emissões).
Um estudo do Ministério do Ambiente e Alimentação da Dinamarca tem resultados ainda mais negativos para os sacos de tecido. A investigação, de 2018, concluiu que um saco de algodão convencional tem de ser usado 7 mil vezes para compensar os recursos que se gastaram no seu fabrico. Um saco de algodão biológico, por seu lado, precisa de 20 mil utilizações para atingir o desempenho ambiental dos sacos plásticas convencionais.
Os sacos de polipropileno (os reutilizáveis, de plástico mais grosso) e os de poliéster têm de ser usados até 4 e 3 vezes, respetivamente, para que sejam mais sustentáveis. Surpreendentemente, um saco de plástico tem uma pegada ambiental menor do que um saco de papel com o mesmo número de utilizações. O papel terá de ser usado nove vezes para igualar a utilização do saco plástico. O problema dos sacos de papel é que dificilmente se consegue garantir a sua qualidade até à nona utilização.
Segundo Elsa Agante, da Deco Proteste, para considerar um saco mais ou menos amigo do Ambiente “fez-se a análise de todo o ciclo de vida de todos estes tipo de produtos: a extração das matérias-primas, a energia consumida na produção, o transporte, se tem tintas ou não e o tipo de cola ou costura.” Finalmente, foi ainda considerado o destino final de acordo com as taxas de reciclagem de cada país.
Os consumidores também devem repensar as suas opções quanto aos sacos reutilizáveis em poliéster para transportar fruta. Isto porque, se forem simples, dez utilizações bastam para que os impactos ambientais sejam inferiores face à utilização de sacos de plástico de uso único. Mas, se o saco for colorido, aumenta para 98 o número de vezes que precisa de ser reutilizado. Já os sacos de algodão para a fruta devem ser utilizados 952 vezes, o que só trarão beneficícios se forem usados durante longos anos.
“Utilizar sacos mais simples, com um único material, com o mínimo de tintas e cola possível – são pequenas coisas que fazem toda a diferença”, sugere Elsa Agante.
Um estudo publicado pela Universidade Tecnológica de Nanyang, Singapura, também verificou que sacos de plástico reutilizado são uma melhor opção, desde que sejam reutilizadas muitas vezes. A análise dos diferentes tipos de saco baseou-se na produção, distribuição, transporte, tratamento e descarte no fim da vida. Sacos de algodão e papel requerem grandes quantidades de água e recursos naturais, deixando uma pegada ecológica maior, afirma o relatório.
Há, no entanto, que recordar que os sacos de plástico têm outras desvantagens ambientais: o plástico que vai parar aos oceanos é já um problema gravíssimo, e com tendência a piorar.