José Xavier, o cientista português que já viveu na Antártida, avisa que "o mundo está a ser lento demais" a tomar medidas de combate às alterações climáticas e sublinha que se continuarmos a não fazer nada os efeitos vão ser alarmantes.
"A comunidade cientifica está extremamente preocupada porque há uma inércia cada vez maior por parte dos governos. Há um desfasamento entre a comunidade cientifica e os políticos o que impede que sejam tomadas medidas, que agora podem ser impopulares, mas que para as gerações futuras, vão ser extremamente importantes. Estamos a ser lentos demais".
O aviso é de José Xavier - o cientista português que tem feito nos últimos anos várias expedições na Antártida e que participa por estes dias num encontro que reúne os melhores cientistas polares do mundo.
"Na Antártida os efeitos das alterações climáticas são bem visíveis, basta ver os glaciares que estão a declinar de uma maneira drástica, os glaciares que não derretiam há muito tempo, estão a derreter agora." E é lá, bem longe, que se pode verificar como é que o resto do planeta pode sofrer com os erros da humanidade.
O investigador explica por exemplo que "com o aquecimento das águas dos oceanos, o camarão da Antártida, que é um elemento chave na cadeia alimentar, está a desaparecer, tal como os enigmáticos Pinguins Imperadores, por exemplo."
José Xavier adianta que a experiencia na Antártida " é muito enriquecedora porque temos um contexto excelente para fazer ciência. A minha equipa trabalha com pinguins, com focas, peixes, camarões, animais que estão habituados a águas extremamente frias. Sabemos exatamente onde é que eles vão á procura de comida e que alimentos consomem".
Como é que os animais na Antártida se vão adaptar ás alterações climáticas? A resposta está ainda em discussão mas há, desde logo, evidências muito claras, "mesmo num bom cenário a temperatura global vai aumentar, o processo de degelo vai aumentar. Mesmo que o acordo de Paris fosse cumprido á regra e os países reduzissem as emissoes de carbono, mesmo assim as temperaturas aumentariam. No pior cenário, ou seja, se não fizermos nada (que é o que está a acontecer) triplicamos as consequencias negativas. Por exemplo, a cumprir o acordo de Paris o nível do mar aumentaria 6 centimetros, se não for fizermos nada, no prazo de 50 anos o mar aumentará 30 centimetros."
"Se todo o gelo da Antártida derreter o nível da agua do mar pode subir 50 a 60 metros."
Na previsão do cientista português "temos cerca de 10 anos para correr atrás do prejuízo" ou as consequências vão ser devastadoras.
"Fizemos uma estimativa e (daqui a 70 anos) só para as zonas costeiras dos Estados Unidos os custos seriam de 50 biliões de dólares ao ano, só para mitigar os problemas das zonas afetadas, se não fizermos nada, os impactos vão triplicar, os impactos serão gigantes."
José Xavier é docente do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), um dos coordenadores e o único português que integra o programa SCAR AnT-ERA.
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