Em cerca de um hectare de floresta de carvalhos e castanheiros está a ser criada uma reserva natural local para a lontra, o texugo, o corço, a salamandra-lusitânica e dezenas de outras espécies.
Este refúgio de biodiversidade situa-se entre as localidades de Almalaguês e Rio de Galinhas, a 15 minutos de carro da cidade de Coimbra.
Trata-se da parte central de uma encosta onde abundam os carvalhos-alvarinhos e os castanheiros e por onde corre uma ribeira.
Ali vivem espécies que só ocorrem na Península Ibérica – como a salamandra-lusitânica e o lagarto-d’água – e espécies emblemáticas da floresta, como o veado, o corço, a gineta e o texugo.
Estes e outros animais partilham aquele espaço com, pelo menos, 70 espécies de aves, desde mochos e corujas a águias, rouxinóis, guarda-rios, chapins e pica-paus.
“Depois de vários meses de prospecção no terreno encontrámos neste local as condições ideais que procurávamos”, contou Manuel Malva, 23 anos, fotógrafo de natureza e estudante de biologia na Universidade de Coimbra.
Manuel Malva é o presidente da MilVoz– Associação de Protecção e Conservação da Natureza, criada em Maio de 2019 por cidadãos para dar voz ao património natural da região de Coimbra.
A 16 de Maio, a associação lançou a campanha de crowdfunding “Ajuda a criar a primeira RESERVA NATURAL MilVoz” para angariação de fundos. A campanha termina a 12 de Julho mas o objectivo de reunir 3.000 euros já foi ultrapassado, chegando agora a mais de 3.900 euros.
“Este local tem habitats muito ricos e diversos e uma floresta nativa plena em biodiversidade”, disse Manuel Malva. “A diversidade de espécies e habitats dentro deste espaço é impressionante.”
Além disso é facilmente acessível à comunidade, um aspecto importante, uma vez que “um dos grandes objetivos deste projeto é aproximar as pessoas da natureza e da biodiversidade da região”.
Abrigos para morcegos, charcos para anfíbios
Entre as “pérolas” desta reserva está a “notável diversidade de flora nativa” e as “populações bem estabelecidas de algumas espécies ameaçadas, endémicas da Península Ibérica, e cuja conservação é prioritária”.
Segundo Manuel Malva, o grande objectivo é gerir o espaço “em prol da conservação da biodiversidade”, envolvendo a população.
“Pretendemos começar a gerir o espaço já este Verão, começando por melhorar o trilho pedestre que percorre parte da encosta, para tornar mais agradável a sua utilização e usufruto. Com este trabalho concluído e a sinalética interpretativa colocada, daremos então início à gestão ambiental”, explicou.
Mais concretamente, a associação pretende ajudar a floresta que já existe a continuar a desenvolver-se, favorecer espécies vegetais mais raras ou menos representadas e “recuperar zonas mais degradadas, que estão ocupadas por plantações de eucalipto e invasoras, que ameaçam a conservação deste espaço a médio prazo”, salientou Manuel Malva.
Vão continuar os trabalhos de inventariação e monitorização da biodiversidade e serão iniciadas melhorias nos habitats de várias espécies, como a colocação de caixas-ninho para aves, abrigos para morcegos e a criação de charcos para a reprodução de anfíbios.
A gestão da reserva “será feita, dentro das possibilidades da associação, pelos seus sócios ou por qualquer pessoa que se queira juntar a nós neste projeto ou nas actividades que iremos periodicamente desenvolver, e que serão sempre abertas ao público”.
MilVoz quer criar rede de mini-reservas
Esta será apenas a primeira de uma rede de mini-reservas que a associação quer implementar.
“Criar uma rede de mini-reservas foi desde cedo um dos nossos principais objectivos”, explicou Manuel Malva. “A única forma de preservar de forma segura e a longo prazo é adquirindo o espaço a preservar.”
Esta primeira mini-reserva pretende demonstrar os modelos de gestão que a associar quer replicar no futuro em outros locais, com habitats e espécies diferentes.
A rede de mini-reservas começa mas não termina em Coimbra. “A natureza não tem barreiras físicas e a MilVoz também não. A maioria dos membros é da região de Coimbra, pelo que fez sentido, pela proximidade, Coimbra ser o nosso núcleo de actuação. No entanto, não fechamos portas a desenvolver projectos futuros fora da região.”
A MilVoz nasceu “da junção de um conjunto muito diverso de pessoas com os mesmos interesses e preocupações ambientais, com uma grande vontade em criar uma entidade que represente e dê voz ao património natural da região”.
De acordo com Manuel Malva, “o papel da sociedade civil é (…) dar o exemplo e mostrar que não é apática”.
“Iniciativas como esta estão totalmente dependentes do contributo de cada pessoa que se identifique com o que queremos proteger e desenvolver, já que este projecto nasce precisamente da vontade de um grupo de cidadãos comuns.”
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