quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O complexo equilíbrio do ambiente


As reações aos incêndios na Amazónia em forma de "overload" informativo, que chegam mesmo a atirar para alguns meses de governação as causas de um desastre que leva décadas, motivam-me a refletir sobre a complexidade de compatibilizar um desejável equilíbrio ambiental e o necessário desenvolvimento social e económico.
Por maiores que sejam algumas excentricidades do atual presidente do Brasil, é muito ligeiro atribuir-lhe diretamente responsabilidades pelos últimos 20 anos de forte devastação da floresta amazónica. Será como culpar o divino por não ter atendido as preces de chuva do Twiter da líder bloquista nos trágicos incêndios de 2017. Como também muito difícil entender a política europeia de reforço da componente de biocombustíveis a partir de oleaginosas, quando só para cumprir a quota nos transportes públicos de Paris são necessários 700 mil hectares de plantação de colza. Vimos bem as consequências deste disparate, numa Europa em que apresenta um desequilíbrio próximo dos 80% nas necessidades de abastecimento em proteína vegetal para sustentar a sua produção animal. E a solução não passa, como alguns defendem, por reduzir drasticamente toda esta atividade. A enorme eficiência biológica da moderna produção de alimentos de origem animal tem sido a base de um dos maiores equilíbrios sociais, garantindo o acesso a proteína de qualidade à generalidade da população. E não será o receio da elevada competitividade, neste domínio, dos países que integram o Mercosul, a causa mais provável para o súbito interesse da França em bloquear o avanço do acordo com a UE? Porque também me questiono sobre a bondade das multinacionais norueguesas como algumas das maiores interessadas na exploração das riquezas do subsolo da Amazónia. E o que dizer da manifestação contra a exploração de lítio, alimentada nas redes sociais por imagens captadas por telemóveis de última geração equipados com baterias carregadas por esse mineral?
Por tudo isto temos que ser muito prudentes. Está visto que a sustentabilidade ambiental é uma matéria complexa e longe de ser linear.
Emídio Gomes - Prof. catedrático, vice-reitor da UTAD

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