Quanto vale uma tendência? Anote: 74 mil milhões de euros. O valor é tão impressionante quanto o crescimento exponencial da indústria. Falamos da produção de pele vegana que, segundo um relatório da Infinium Global Research publicado em março de 2020, estima um crescimento anual de 50 por cento ao ano.
O material que tem acalmado as preocupações ambientais dos consumidores é um dos símbolos maiores do mercado vegan, em crescimento em quase todos os países. Número de 2019 indicavam um crescimento de 12 por cento em França, 11 por cento nos Estados Unidos e uns impressionantes 320 por cento na Dinamarca.
A moda e a indústria do calçado são os que, a par da beleza, têm investido mais neste tipo de produtos. A Dr. Martens anunciou um aumento dos lucros em 70 por cento graças à sua colecção de botas vegan — uma inovação em que marcas como Adidas ou Topshop também investiram.
Portanto, parece um ponto bem assente: a roupa e o calçado vegan estão em grande e, com ele, também aquilo a que chamam pele vegan, que é bem diferente da pele falsa ou sintética.
Sabemos também que a pele verdadeira é um enorme problema ambiental. Apesar de se limitar a aproveitar um subproduto da matança de animais na indústria alimentar, o tratamento subsequente a que tem que ser sujeita para poder ser usada no vestuário é altamente poluente.
Embora métodos mais amigos do ambiente estejam a ser postos em prática, nos países em desenvolvimento os químicos usados nos curtumes continuam a ir parar ao oceano sem quaisquer filtros ou tratamentos.
Mas afinal, o que é pele vegana? A definição abarca várias composições. Trata-se, no fundo, de um material que imita a textura da pele, embora feito não de pele de animal mas de produtos sintéticos ou com base em plantas.
A verdade é que a maioria da pele vegan que está hoje no mercado é feita de plástico, seja ele poliuretano ou cloreto de polivinilo, escolhidos pela sua textura rugosa que permite criar cópias quase impossíveis de distinguir. Depois há as exceções, a pele vegan feita de materiais naturais como rolhas, cascas de maçã ou plásticos reciclados.
A aposta nos compostos de plástico garantem que não se recorre à pele animal, mas será que isso torna a escolha mais sustentável e ecológica?
Desde logo, há um ponto essencial: a durabilidade de uma peça feita nestes materiais é significativamente menor, o que levará a que estes materiais não biodegradáveis vão parar ao lixo mais rapidamente.
“Claro que existem preocupações ambientais [no uso de pele vegan de poliuretano]”, revela à “Harper’s Bazaar” Sandra Sandor, directora criativa da Nanushka. “Ainda assim, há motivos válidos para afirmar que o impacto ambiental da sua produção é menor do que o da pele verdadeira”. Um relatório de 2018 parece confirmá-lo.
“Se compram pele falsa, têm que tem em conta que estão a comprar plástico”, revela ao “The Independent” Amy Powney, directora criativa da marca de luxo sustentável Mother of Pearl, que opta por usar pele verdadeira. Isto porque a maioria das alernativas usa materiais sintéticos.
Powney explica que dá preferência a pele que cumpra as melhores práticas — que, por exemplo, não usem materiais naturais no tratamento, ao invés de químicos nocivos —, até porque os produtos tornam-se mais duráveis.
O consenso parece ser mais ou menos generalizado. Não existe qualquer problema em apostar em peças com o selo “pele vegan”, desde que elas não sejam feitas de materiais sintéticos. Serão, na prática, vegan, mas dificilmente poderão ser apelidadas de amigas do ambiente.
Estas peças de poliuretano começam a poluir assim que nos chegam às mãos, com microfibras que vão sendo largadas a cada uso e a cada lavagem — já tinha revelado os números impressionantes de microfibras que poluem as águas e que são libertados a cada ano pelas peças de materiais sintéticos.
“A história da pele é uma de amor e ódio”, explica Jourdan Norcose da Boyish Jeans em declarações ao “The Independent”. “A pele vegan pode ser feita de plásticos que demoram anos a degradar-se na natureza, por isso é ainda mais nociva para o planeta do que a pele verdadeira.”
“As pessoas julgam que é melhor simplesmente porque tem uma etiqueta a dizer vegan, mas isso é porque ninguém está a perder o tempo que devia a perceber o que é que estão a comprar”, conclui.
Então, pele vegan, sim ou não? Depende. Fará sentido se se tratar de uma alternativa que não use plásticos e outros materiais sintéticos. Caso a questão da crueldade animal não o incomode, pode sempre optar por peças de pele verdadeira, tendo sempre o cuidado de garantir que o processo de tratamento e produção evita o uso de produtos tóxicos e cumpre todas as regras
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