terça-feira, 5 de novembro de 2019

Crianças expostas a espaços verdes têm melhores marcadores biológicos


As crianças que estão mais expostas a espaços verdes apresentam melhores níveis de marcadores biológicos do que aquelas que têm um menor contacto com estes espaços. A conclusão é avançada por um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), publicado na revista Environmental International.

Sabe-se que a exposição a espaços verdes tem um impacto positivo na saúde da população. Entre os vários benefícios, podem destacar-se a prática de mais exercício físico, o fortalecimento das relações sociais, melhor saúde mental e qualidade de vida, menores níveis de stress e de ansiedade e melhor função imune.

No entanto, há ainda pouca investigação sobre o impacto desta exposição em marcadores biológicos.

Segundo a Prof.ª Doutora Ana Isabel Ribeiro, primeira autora do artigo, coordenado pelo Prof. Doutor Henrique Barros, "importa olharmos para os marcadores biológicos, porque estes antecedem muitas patologias crónicas e fatais e, portanto, ajudam-nos a predizer o risco de uma pessoa vir a desenvolver doença no futuro. Esta questão é especialmente relevante em crianças, porque a grande maioria ainda não apresenta sintomas ou tem diagnóstico de doença. A desregulação num determinado marcador biológico constitui portanto um primeiro sinal".

Os investigadores analisaram o impacto da exposição a áreas verdes em cerca de 3.100 crianças, com sete anos de idade, pertencentes ao estudo longitudinal Geração XXI, que segue, desde 2005, cerca de 8600 participantes que nasceram nas maternidades públicas da Área Metropolitana do Porto.

Mediu-se a exposição destas crianças aos espaços verdes presentes no entorno da sua área de residência e da escola onde estudam, e analisou-se o efeito desta exposição em oito biomarcadores - a pressão arterial sistólica e diastólica (indicadores de saúde cardiovascular), a relação cintura/anca, a hemoglobina glicada, o colesterol HDL e total (indicadores de saúde metabólica) e a proteína C-reativa (indicador inflamatório).

De uma forma geral, concluiu-se que as crianças com menor exposição a áreas verdes apresentavam piores níveis nos biomarcadores analisados. Esta associação foi mais significativa com a exposição medida em torno da área escolar. “As crianças que dispunham de pelo menos um espaço verde, localizado a uma distância de 400 a 800 metros da escola, apresentaram melhores níveis de diversos biomarcadores, particularmente os cardiovasculares e inflamatórios”, diz a autora. 

Numa perspevtiva de saúde pública, e somando estes resultados a um conjunto crescente de estudos que tem revelado benefícios fisiológicos e psicossociais do contacto com espaços verdes e naturais, “é fundamental que os governantes e planeadores locais assegurem que a população dispõe de áreas verdes, como parques e jardins, a uma distância razoável dos seus locais de residência e dos parques escolares”, acrescenta.

O artigo, desenvolvido ao abrigo da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP, designa-se Association between neighbourhood green space and biological markers inschool-aged children. Findings from the Generation XXI birth cohort, e é também assinado pelas investigadoras pela Dr.ª Carla Tavares e pela Prof.ª Doutora Alexandra Guttentag.

O estudo foi desenvolvido no âmbito do projecto EXALAR 21, o qual está a estudar a relação entre o ambiente urbano e a saúde infantil.

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