O travão a fundo da economia e a mudança de hábitos forçada pela pandemia da covid-19 causaram uma “menor pressão sobre o ambiente” nos primeiros nove meses deste ano. Alguns dados avulsos já tinham dado conta desta realidade, mas as Estatísticas do Ambiente, divulgadas esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmam-no: a diminuição da produção e das deslocações e a alteração no tipo de consumo das famílias levaram a uma redução de emissões e uma melhoria da qualidade do ar.
São cinco os pontos destacados pelo INE que traduzem os benefícios temporários trazidos pela pandemia ao ambiente, entre Janeiro e Setembro de 2020, a começar com a diminuição de 21,9% das emissões de queima de combustíveis fósseis. A redução fez-se sentir também ao nível dos consumos de energia, com uma quebra de 3,8% na electricidade e de 9,4% no gás natural. Além disso, as famílias viraram o foco do consumo para os bens alimentares, diminuindo a procura de outro tipo de produtos e a quantidade dos resíduos sectoriais gerados decresceu. Com os portugueses fechados em casa durante grande parte do ano, o mesmo não aconteceu com os resíduos urbanos, que foram mais do que no ano anterior, mas também aqui há um bom indicador: houve uma maior recolha selectiva nos ecopontos.
Por fim, o INE salienta também que os primeiros nove meses de 2020 representam uma melhoria da qualidade do ar, com uma menor concentração média de dióxido de azoto e a consequente diminuição do número de dias em que a classificação do índice de qualidade do ar foi “Mau” ou “Fraco”.
A equação não é difícil de deslindar. Com o abrandamento significativo da actividade económica, menos deslocações e uma diminuição do consumo, o ambiente nacional teve uma folga da pressão a que está habitualmente sujeito. Olhe-se para o exemplo do transporte aéreo, reduzido praticamente à inexistência durante uma parte considerável do ano, e percebe-se do que estamos a falar. Segundo os dados do INE agora revelados, entre Janeiro e Setembro deste ano houve menos 98 mil aeronaves a circular em Portugal, o que representou uma redução de emissões de equivalentes de dióxido de carbono de 56,6% e do consumo de energia de 60,9%. Dados que também podem ser aplicados ao transporte marítimo, ainda que com menos expressão: a redução das emissões foi de 15,7% e do consumo de energia de 26,9%.
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