Dos pequenos Estados insulares às grandes potências, todos os países enfrentam ameaças à saúde humana "que se multiplicam e se intensificam", à medida que que as alterações climáticas propiciam futuras pandemias e tornam cada vez mais prováveis os colapsos dos sistemas sanitários, adianta o quinto relatório anual da Lancet sobre as ligações entre saúde e clima.
Segundo o estudo, o calor extremo, a poluição do ar e a agricultura intensa abrem "as piores perspectivas para a saúde pública que a nossa geração já viu".
O relatório mostra que nas últimas duas décadas houve um aumento de 54% em mortes relacionadas com o calor entre os idosos, tendo ondas de calor extremas provocado a morte de perto de 300 mil pessoas só em 2018.
Embora fenómenos relacionados com o clima, como tempestades tropicais, continuem a ser, por enquanto, os problemas enfrentados pela maioria das nações em desenvolvimento, os autores disseram que o calor extremo já está a causar danos devastadores à saúde nos países mais ricos.
Durante o ano de 2018, só França teve 8000 mortes de idosos relacionadas com o calor, infligindo um custo económico equivalente a 1,3% do PIB naquele ano, concluiu o relatório.
"As ameaças à saúde humana estão a multiplicar-se e a intensificar-se devido às alterações climáticas e, a menos que mudemos de rumo, os nossos sistemas de saúde correm o risco de ficar sobrecarregados no futuro", disse Ian Hamilton, diretor executivo do relatório Lancet Countdown.
O calor e a seca estão a provocar fortes aumentos na exposição humana a incêndios florestais, com 128 países a ver um aumento na população ferida, morta ou desalojada por incêndios desde o início de 2000.
O relatório indica que os aumentos projectados do nível do mar causados por emissões de combustíveis fósseis, agricultura e transportes podem ameaçar deslocar até 565 milhões de pessoas até 2100, expondo-as a uma série de problemas de saúde.
Com mais de nove milhões de mortes a serem atribuídas à fome a cada ano, o painel de especialistas que elaborou o relatório descobriu que a mortalidade ligada ao consumo excessivo de carne vermelha aumentou 70 por cento em apenas três décadas.
O consumo excessivo de carne vermelha foi responsável por pelo menos 13 mil mortes em França em 2017, de quase 90 mil mortes naquele ano atribuíveis à fome.
Os autores alertaram que a urbanização contínua, a agricultura intensiva, as viagens aéreas e os estilos de vida movidos a combustíveis fósseis tornariam pandemias como a de Covid-19 muito mais prováveis no futuro e pediram uma ação urgente para evitar os piores efeitos das alterações climáticas e reduzir o seu impacto como um multiplicador de ameaças à saúde.
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