domingo, 27 de dezembro de 2020

Plantas limpam água numa zona de Famalicão que se quer protegida.


Parte das águas residuais que confluem para a ETAR de Agra, em Famalicão, vão ser purificadas para rega por plantas assentes em ilhas flutuantes de cortiça. A iniciativa insere-se num projecto de adaptação às alterações climáticas para os próximos cinco anos, financiado pela União Europeia e destinado às Pateiras do Ave, zona que a autarquia deseja classificar como Paisagem Protegida Local em 2021.

Ao primeiro olhar, o tanque parece desinteressante: as ervas alastram-se pelo reservatório sem uso na estação de tratamento de águas residuais (ETAR) de Agra, a escassas centenas de metros do rio Ave. Mas é ali, em Fradelos, no extremo sudoeste do concelho de Vila Nova de Famalicão, que vai nascer uma fito-ETAR, sistema que recorre exclusivamente a plantas e a bactérias para tratar as águas residuais e torná-las viáveis para rega. “O tanque foi desenhado para receber as lamas da ETAR, mas ficou abandonado. Agora vai ser reutilizado para o tratamento dos efluentes”, explica o ecológo Vasco Flores Cruz, ligado às Pateiras do Ave, projecto em curso desde 2016 que visa a preservação ambiental daquele território.

A fito-ETAR representa 45% dos 1,8 milhões de euros destinados ao “LIFE Pateiras”, projecto elaborado pela Câmara Municipal de Famalicão que visa minimizar os efeitos das alterações climáticas, de 01 de Janeiro de 2021 até 31 de Dezembro de 2025, já aprovado pela União Europeia (UE), através do LIFE, instrumento de financiamento para a acção climática em vigor desde 1992, que vai garantir um milhão de euros.

Segundo a Águas do Norte, entidade parceira da autarquia no “LIFE Pateiras”, a fito-ETAR vai tratar quatro mil metros cúbicos dos 42.288 que a ETAR de Agra recebe diariamente. A instalação não será inédita no país; só no Norte, existem mais seis, adianta a Águas do Norte ao PÚBLICO. Mas a tecnologia que a sustenta promete facilitar a sua manutenção. Em vez de presas directamente à terra, desenvolvendo-se num processo “caro e moroso”, as plantas vão crescer em ilhas flutuantes de cortiça, material biodegradável. “Para trocar as plantas, há um sistema rápido e fácil. As ilhas funcionam por módulos de cortiça, que são bastante leves. Desmontam-se módulo a módulo, em pouco tempo e a custo reduzido”, esclarece Vasco Flores Cruz.

A água purificada vai servir para rega, mas também pode criar lagoas que atraiam ainda mais patos e garças, aves que já hoje se deslocam ao tanque para se alimentarem, realça o ecólogo. Face à proximidade com uma zona industrial na freguesia vizinha de Ribeirão, Vasco Flores Cruz também considera viável “criar-se uma linha de águas cinzentas”, não potáveis, para lavar pavimentos, carros, jardins e abastecer sistemas de arrefecimento.

Foto: Nélson Encarnação

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