A falta de informação impede a criação de uma estratégia nacional integrada de redução de plásticos, alerta um relatório esta quarta-feira divulgado que adverte para a vulnerabilidade do país à poluição por plásticos.
O relatório “X-Ray da Poluição por Plástico: Repensar o Plástico em Portugal”, realizado pela Associação Natureza Portugal (ANP), que trabalha em associação com a organização ambientalista internacional World Wildlife Fund for Nature (WWF), é apresentado como o primeiro relatório nacional sobre poluição por plásticos em Portugal continental.
A ANP/WWF conclui que faltam no país informações sobre os impactos ecológicos, sociais, económicos e para a saúde da poluição por plástico, o que impede não só uma estratégia de redução como a determinação de um investimento de gestão dos resíduos.
"Conhecemos os dados globais: todos os anos produzem-se 345 milhões de toneladas de plástico virgem em todo o mundo. A Europa é o segundo maior produtor de plástico, com cerca de 64,4 milhões de toneladas produzidas em 2017. E em Portugal, quais são os dados disponíveis? Qual é o custo real dos plásticos em Portugal?”, questiona Ângela Morgado, diretora executiva da ANP/WWF, citada num comunicado da associação."
O relatório mostra que um dos maiores problemas se relaciona com as embalagens de plástico de uso único, que têm uma vida útil que chega a ser de poucos minutos mas que podem demorar centenas de anos a decompor-se e releva que se desconhecem os efeitos para a saúde humana da decomposição dos microplásticos e nanoplásticos, que estão presentes em espécies consumidas como alimento.
Em Portugal, dados de 2016 indicam que a quantidade de embalagens de plástico declaradas, produzidas ou importadas foi de 195.902 toneladas.
“A produção é altíssima, mas a percentagem de itens reciclados, no período de 1950-2015, foi apenas de 9%, sendo que 12% foi incinerado. Os restantes 80% ficaram acumulados em aterros e perdidos no meio ambiente”. Em Portugal, cerca de 40% dos resíduos de plástico ainda são colocados em aterros (dados de 2016), alerta o documento, no qual não se diaboliza o plástico e se admite que as características que o tornam benéfico, persistência e resistência, são as mesmas que o tornam nocivo para o ambiente.
O relatório cita ainda cálculos recentes que indicam que mais de metade de todo o plástico que existe no mundo foi produzido nas últimas duas décadas. Nos próximos 20 anos a quantidade deve duplicar.
Os plásticos constituem a maior percentagem de resíduos presentes no ambiente em Portugal, quer como macroplásticos (descartáveis e artes de pesca) quer como microplásticos, em praias, rios e ingeridos por espécies marinhas. A poluição por plásticos dos oceanos é uma das ameaças ao planeta, salienta o documento. Segundo dados de 2017, calcula-se que cerca de oito milhões de toneladas de plástico chegam anualmente aos oceanos.
A ANP/WWF defende como prioridade a prevenção e o controlo efetivo da poluição por plásticos e propõe, entre outras medidas, a diminuição da oferta de plásticos descartáveis, a introdução de sistemas de depósitos, em particular garrafas, e melhor rotulagem.
Às entidades públicas propõe que sejam criados incentivos para a economia da reciclagem e planos de gestão municipal de resíduos de plástico, e se reforce a legislação em matéria de gestão de resíduos.
A associação defende também incentivos para a economia da reciclagem, para melhorar os indicadores, o aumento de pontos públicos de entrega de resíduos de plástico e o incentivo à produção de sinalética alusiva à incorporação de plástico reciclado.
Ângela Morgado considera, citada no comunicado, que é fundamental que sejam criados guias sobre embalagens para informar melhor os cidadãos sobre quais os plásticos que são fáceis de reciclar e seguros para reutilizar.
O relatório vem no seguimento da campanha da WWF “No Plastics in Nature”, lançada este ano, e foi apresentado na terça-feira ao Ministério do Ambiente.