domingo, 27 de dezembro de 2020

Clima: Só os pobres reduzem emissões de carbono


O estudo, "Confrontar a Desigualdade de Carbono", é da responsabilidade da Oxfam, uma organização internacional presente em mais de 90 países que procura soluções para a pobreza e a desigualdade. Baseia-se num trabalho de investigação do Stockholm Environment Institute sobre as emissões associadas ao consumo de grupos com diferentes rendimentos entre 1990 e 2015.

No documento, a Oxfam começa por afirmar que, apesar das fortes quedas nas emissões de carbono este ano, devido à pandemia de covid-19, "a crise climática continuou a crescer" e novas pesquisas "mostram como a extrema desigualdade de carbono nas últimas décadas trouxe o mundo à beira do colapso climático".

E estima que, no mundo, num período (1990-2015) em que as emissões anuais de GEE cresceram quase 60%, e em que as emissões acumuladas duplicaram, os 10% mais ricos do mundo (630 milhões de pessoas) foram responsáveis por 52% das emissões de carbono, e os 50% mais pobres (3,1 mil milhões) apenas por 07%.

Dos resultados destaca-se que na União Europeia (UE) os 10% dos mais ricos têm aumentado as emissões de GEE, pelo que as reduções de GEE são resultado dos esforços dos cidadãos com rendimentos médios e baixos.

A Oxfam é parceira em Portugal da associação ambientalista Zero num projeto de capacitação da população na luta contra as alterações climáticas (financiado pelo programa DEAR - Development Education and Awareness Raising, da Comissão Europeia).

Num comunicado a propósito do estudo a associação ambientalista portuguesa afirma que o documento mostra que é fundamental combater a desigualdade carbónica para cumprir a nova meta climática da UE para 2030, que será discutida na quinta e na sexta-feira. O Conselho Europeu discute nesses dias uma proposta de redução de pelo menos 55% de GEE em relação a 1990, a atingir em 2030.

No período em análise, segundo o estudo, os 10% dos europeus mais ricos foram responsáveis por 27% das emissões de GEE, o mesmo que toda a população mais pobre, enquanto a classe média produziu 46% das emissões.

Por outro lado, os europeus mais pobres reduziram as emissões em 24% e os europeus com rendimentos intermédios reduziram em 13%. Os 10% mais ricos não só não reduziram como ainda as aumentaram, em 03%. E uma subdivisão entre a classe rica indica que os 01% muito ricos aumentaram as emissões de GEE em 05%.

O Acordo de Paris sobre a redução dos GEE, assinado há cinco anos, indica a necessidade de manter o aquecimento global abaixo de 1,5 graus Celsius (1,5ºC), pelo que nas contas da Oxfam para que tal aconteça os 10% dos europeus mais ricos terão de reduzir 10 vezes a pegada carbónica e os 01% muito ricos terão de diminuir 30 vezes. Em contrapartida os 50% mais pobres só terão de reduzir para metade.

E segundo as mesmas contas há ainda uma grande desigualdade em termos de emissões de GEE dentro dos estados-membros da UE e entre eles. Os 10% mais ricos da Alemanha, Itália, França e Espanha (quase 26 milhões de pessoas), exemplifica-se, produzem a mesma quantidade de emissões que a população de 16 países da UE, aproximadamente 85 milhões de pessoas.

Em relação a Portugal, na análise da Oxfam citada pela associação Zero, é de salientar a desproporção de ricos e pobres em relação à UE, já que 72% dos portugueses fazem parte da metade dos mais pobres da Europa e só 22% fazem parte dos 40% de europeus com rendimentos intermédios. E só 06% entram para o "clube" dos 10% mais ricos da Europa.

Dados de 2015 indicam que em Portugal os 05% mais ricos foram responsáveis por 20% das emissões de GEE. Do outro lado os 05% mais pobres produziram 0,6% das emissões de GEE.

Em termos comparativos, 'per capita', Portugal, com a Suécia e a França, tem das emissões mais baixas da Europa. Tal deve-se, entre outros fatores, ao maior uso de energias renováveis, ao menor uso de energia para aquecimento e arrefecimento das casas, e ao facto de os ricos portugueses serem menos ricos.

Para a investigação foi considerado para os muito ricos um rendimento superior a 89.000 euros por ano (em 2015), os ricos com mais de 41.000 euros ano, os de rendimento médio entre 20 e 41.000 euros, e os pobres até 20.000 euros.

No comunicado a Zero considera fundamental que a UE use os instrumentos do Pacto Ecológico Europeu para combater a desigualdade e salienta que as emissões dos mais ricos terão de baixar significativamente, que se terá de promover a mobilidade elétrica e o transporte público, e taxar o combustível da aviação.

E lembra as consequências recentes do aumento das temperaturas globais, como inundações e ondas de calor na Europa, furacões mortíferos na América Central, ou incêndios florestais sem precedentes na Austrália e Estados Unidos.

Foto: Danilo Krstanovic

Estudante ucraniano transforma folhas caídas de árvores em papel


 

O projecto, sediado na cidade de Zhytomyr, 140 quilómetros a oeste da capital Kiev, quer reduzir o impacto ambiental da produção de papel.

Valentyn Frechka era ainda um estudante do ensino secundário a viver na zona rural da Ucrânia quando começou um projecto científico para transformar folhas caídas de árvores e plantas em papel. Passados três anos, o jovem de 19 anos lidera uma iniciativa chamada Re-Leaf Paper, que produz sacos de papel e embalagens a partir de fibra extraída de folhas secas.

O projecto, sediado na cidade de Zhytomyr, 140 quilómetros a oeste da capital Kiev, quer reduzir o impacto ambiental da produção de papel. Valentyn estabeleceu uma​ parceria com um fabricante de cartão na cidade, que o contratou como especialista em pesquisa e desenvolvimento em 2018.

“A ideia é muito simples. Coisas que se acredita serem resíduos podem ser reutilizadas ou recicladas. As folhas são resíduos que precisam de ser removidos dos parques porque emitem muito carbono quando apodrecem”, disse Frechka à Reuters. “É uma oportunidade para o cliente usar embalagens amigas do ambiente.”

Em Outubro, a Re-leaf Paper produziu o seu primeiro lote de papel, feito a partir de folhas recolhidas em sacos grandes em Kiev e noutras cidades, e está a planear entrar na produção comercial.

Em 2020, a edição ucraniana da revista Forbes incluiu Frechka na lista dos 30 ucranianos de maior sucesso com menos de 30 anos.

Bruxelas recomenda que agricultura em Portugal dê prioridade ao ambiente.

 


Ao desenvolver o seu plano estratégico, Portugal deve considerar a diversidade e a especificidade de diferentes áreas no país, nomeadamente as regiões ultraperiféricas.

A Comissão Europeia divulgou na passada sexta-feira as recomendações aos Estados-membros para a elaboração dos respetivos planos estratégicos nacionais para atingir os nove objetivos traçados na Política Agrícola Comum 2021-2027.

As recomendações fazem parte do diálogo entre a Comissão e os Estados-membros para os ajudar a executar a PAC a partir de 2023 e para assegurar que os seus planos estratégicos contribuam de forma ambiciosa para o Pacto Ecológico Europeu.

O acordo político sobre a nova PAC deverá ser concluído até à primavera de 2021, durante a presidência portuguesa da UE, tendo os Estados-membros um prazo até 1 de janeiro de 2022 para apresentar os respetivos planos estratégicos.

A Comissão Europeia prevê até 1 de janeiro de 2023 aprovar os planos, quando a nova PAC estará em plena execução.

INE confirma: a pandemia deu uma ajuda ao ambiente


 

O travão a fundo da economia e a mudança de hábitos forçada pela pandemia da covid-19 causaram uma “menor pressão sobre o ambiente” nos primeiros nove meses deste ano. Alguns dados avulsos já tinham dado conta desta realidade, mas as Estatísticas do Ambiente, divulgadas esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmam-no: a diminuição da produção e das deslocações e a alteração no tipo de consumo das famílias levaram a uma redução de emissões e uma melhoria da qualidade do ar.

São cinco os pontos destacados pelo INE que traduzem os benefícios temporários trazidos pela pandemia ao ambiente, entre Janeiro e Setembro de 2020, a começar com a diminuição de 21,9% das emissões de queima de combustíveis fósseis. A redução fez-se sentir também ao nível dos consumos de energia, com uma quebra de 3,8% na electricidade e de 9,4% no gás natural. Além disso, as famílias viraram o foco do consumo para os bens alimentares, diminuindo a procura de outro tipo de produtos e a quantidade dos resíduos sectoriais gerados decresceu. Com os portugueses fechados em casa durante grande parte do ano, o mesmo não aconteceu com os resíduos urbanos, que foram mais do que no ano anterior, mas também aqui há um bom indicador: houve uma maior recolha selectiva nos ecopontos.

Por fim, o INE salienta também que os primeiros nove meses de 2020 representam uma melhoria da qualidade do ar, com uma menor concentração média de dióxido de azoto e a consequente diminuição do número de dias em que a classificação do índice de qualidade do ar foi “Mau” ou “Fraco”.

A equação não é difícil de deslindar. Com o abrandamento significativo da actividade económica, menos deslocações e uma diminuição do consumo, o ambiente nacional teve uma folga da pressão a que está habitualmente sujeito. Olhe-se para o exemplo do transporte aéreo, reduzido praticamente à inexistência durante uma parte considerável do ano, e percebe-se do que estamos a falar. Segundo os dados do INE agora revelados, entre Janeiro e Setembro deste ano houve menos 98 mil aeronaves a circular em Portugal, o que representou uma redução de emissões de equivalentes de dióxido de carbono de 56,6% e do consumo de energia de 60,9%. Dados que também podem ser aplicados ao transporte marítimo, ainda que com menos expressão: a redução das emissões foi de 15,7% e do consumo de energia de 26,9%.

Sabe qual é o verdadeiro custo do Natal para o Ambiente? A Quercus fez as contas.


Este ano as comemorações festivas estão limitadas devido ao estado de emergência no âmbito do combate ao Covid-19. As restrições obrigam-nos a passar mais tempo em casa, pelo que podemos adoptar hábitos mais sustentáveis para prevenir a produção de lixo e desperdício alimentar, reduzir o consumo de energia e evitar o aumento do abate de árvores, característico desta altura do ano.

Segundo a análise da Quercus, estima-se que em Portugal os números possam
chegar aos seguintes:

  • Consumo de palhinhas – 19 milhões
  • Consumo de copos descartáveis – 13 milhões
  • Luzes de Natal descartadas – 54 toneladas
  • Pinheiros de Natal que vão para o lixo – 1,2 mil toneladas
  • Rolos de papel de embrulho que são descartados – 12 milhões
  • Pratos cheios de comida que é desperdiçada – 6 milhões
  • Árvores abatidas para embrulhar presentes – 3 milhões
  • Percentagem de lixo produzido, relativamente ao resto do ano – 24%

Quando consumimos algo, devemos questionar o que significa esse comportamento em escala: consumir implica um eventual descarte quando falamos de objetos, e no caso da energia, a emissão de gases de efeito de estufa. Os resíduos ficam no planeta, na maioria dos casos, mais anos do que a vida de uma pessoa. Devemos assim tomar decisões mais conscientes e procurar sempre alternativas amigas do ambiente.

Plantas limpam água numa zona de Famalicão que se quer protegida.


Parte das águas residuais que confluem para a ETAR de Agra, em Famalicão, vão ser purificadas para rega por plantas assentes em ilhas flutuantes de cortiça. A iniciativa insere-se num projecto de adaptação às alterações climáticas para os próximos cinco anos, financiado pela União Europeia e destinado às Pateiras do Ave, zona que a autarquia deseja classificar como Paisagem Protegida Local em 2021.

Ao primeiro olhar, o tanque parece desinteressante: as ervas alastram-se pelo reservatório sem uso na estação de tratamento de águas residuais (ETAR) de Agra, a escassas centenas de metros do rio Ave. Mas é ali, em Fradelos, no extremo sudoeste do concelho de Vila Nova de Famalicão, que vai nascer uma fito-ETAR, sistema que recorre exclusivamente a plantas e a bactérias para tratar as águas residuais e torná-las viáveis para rega. “O tanque foi desenhado para receber as lamas da ETAR, mas ficou abandonado. Agora vai ser reutilizado para o tratamento dos efluentes”, explica o ecológo Vasco Flores Cruz, ligado às Pateiras do Ave, projecto em curso desde 2016 que visa a preservação ambiental daquele território.

A fito-ETAR representa 45% dos 1,8 milhões de euros destinados ao “LIFE Pateiras”, projecto elaborado pela Câmara Municipal de Famalicão que visa minimizar os efeitos das alterações climáticas, de 01 de Janeiro de 2021 até 31 de Dezembro de 2025, já aprovado pela União Europeia (UE), através do LIFE, instrumento de financiamento para a acção climática em vigor desde 1992, que vai garantir um milhão de euros.

Segundo a Águas do Norte, entidade parceira da autarquia no “LIFE Pateiras”, a fito-ETAR vai tratar quatro mil metros cúbicos dos 42.288 que a ETAR de Agra recebe diariamente. A instalação não será inédita no país; só no Norte, existem mais seis, adianta a Águas do Norte ao PÚBLICO. Mas a tecnologia que a sustenta promete facilitar a sua manutenção. Em vez de presas directamente à terra, desenvolvendo-se num processo “caro e moroso”, as plantas vão crescer em ilhas flutuantes de cortiça, material biodegradável. “Para trocar as plantas, há um sistema rápido e fácil. As ilhas funcionam por módulos de cortiça, que são bastante leves. Desmontam-se módulo a módulo, em pouco tempo e a custo reduzido”, esclarece Vasco Flores Cruz.

A água purificada vai servir para rega, mas também pode criar lagoas que atraiam ainda mais patos e garças, aves que já hoje se deslocam ao tanque para se alimentarem, realça o ecólogo. Face à proximidade com uma zona industrial na freguesia vizinha de Ribeirão, Vasco Flores Cruz também considera viável “criar-se uma linha de águas cinzentas”, não potáveis, para lavar pavimentos, carros, jardins e abastecer sistemas de arrefecimento.

Foto: Nélson Encarnação

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Atentados contra o ambiente: Conheça as infrações mais comuns e saiba o que pode fazer para as denunciar


 

Falar de infracções ambientais abrange gestos simples, como atirar beatas para o chão, até actos que configuram crimes, como despejos de lixo industrial num rio, por exemplo, ou até provocar incêndios florestais. A lei define um conjunto de punições bem precisas para essas infrações.

Coimas e contraordenações por infracções ambientais

Muitos são os actos que podem lesar o ambiente. As penas são variadas.

Reciclagem, pneus e carros

Quem, por exemplo, não separar os lixos para reciclagem, ou abandonar pneus ou automóveis, está sujeito a coimas que podem chegar aos 2000 euros (por negligência) e aos 4000 euros (com dolo). No caso das empresas, os valores podem atingir 18 mil euros (negligência) e os 36 mil euros (com dolo).

Atirar resíduos para os esgotos

Despejo de óleos usados, tintas e outros poluentes, por exemplo, nos esgotos. As coimas podem ir até 20 mil euros, por negligência, ou, se houver dolo, para o dobro do valor. Para empresas, até 72 mil euros, no primeiro caso, e, com dolo, até 216 mil euros.

Lixo a céu aberto

Neste caso, entramos no universo da contraordenação muito grave. Abandonar resíduos a céu aberto ou usar recursos hídricos sem o respetivo licenciamento dá direito a coimas que podem chegar aos 100 mil euros, por negligência, ou aos 200 mil, com dolo. Para as empresas, essa ordem de grandeza atinge valores até 144 mil euros (negligência) ou até cinco milhões de euros (dolo).

Queimadas e fogueiras na floresta

Sempre que há risco de incêndio, estas práticas estão proibidas. Coimas: para particulares, até 10 mil euros; tratando-se de empresas, até 120 mil euros.

Espécies protegidas

São punidos actos como eliminar, capturar ou destruir espécies de fauna ou flora protegidas. Mas também comercializá-las ou até ser proprietário delas. Neste caso, o castigo é mais severo: penas de prisão que variam, de acordo com a gravidade, entre um e cinco anos de prisão, se houver dolo. Em caso de negligência, a pena pode chegar aos dois anos de prisão, ou à multa até 360 dias.

Poluição

Poluir ar, água ou solo através de diversas atividades pode chegar aos cinco anos de prisão, se se provar que houve dolo. Por negligência, a pena pode ir até dois anos, ou multa até 360 dias. Se essa infracção representar perigo para a vida das populações, a prisão pode chegar aos oito anos.

Incêndios florestais

Por dolo ou negligência, a lei prevê penas que podem, em casos mais graves – como o de pôr em risco a vida das populações – chegar aos 12 anos.

Lei errática e justiça leve, apesar do impacto ambiental

O problema é que a lei é errática. Se for fumador e tiver o hábito de atirar beatas para o chão, terá de libertar-se dele. Pode ser punido com uma coima. Mas qual será o valor dessa punição? A nova legislação considera este gesto uma contraordenação ambiental leve. Mas o valor da coima não é o que se aplica às restantes infrações ambientais leves. Para estas, o limite mínimo da coima, para particulares, é de 200 euros. Mas, se atirar a beata pela janela do carro, a infração, que também vai contra as regras do Código da Estrada, tem uma coima com limite mínimo de 25 euros. Para ajudar à festa, alguns municípios também já aplicavam, nos seus regulamentos municipais, coimas a quem atirasse as beatas para o chão, pois são um resíduo sólido. Os valores mínimos da coima já serão outros…

Por outro lado, a justiça parece ainda demasiado branda com estas infrações. Foi o que parece ter acontecido com um caso que muita tinta fez correr há cerca de dois anos. Uma empresa foi acusada de lançar poluentes no rio Tejo, com um impacto ambiental quase incalculável. A coima aplicada à empresa, no valor de 12 500 euros, num dos vários processos que a envolveram, foi reduzida para 6000 euros e finalmente transformada numa admoestação, ou seja, numa repreensão escrita.

Esse caráter suave com que os tribunais julgam estes casos traduz-se em números: apenas cerca de um quarto das coimas passadas pela Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (Igamaot) foram efectivamente cobradas. Ou seja, 75% das coimas acabaram por ser retiradas pelos tribunais…

Segundo dados da Igamaot, foram detectadas no nosso país 988 infracções ambientais em 2019. Água, com 256 autos de notícia – cada um pode conter mais do que uma infracção – e resíduos, com 231, foram as áreas mais afectadas.

Estes números correspondem a uma subida face ao que se verificou em 2018 por aquela entidade. Há dois anos, foram emitidos 792 autos no total, com especial incidência, novamente, nas áreas da água e dos resíduos.

A GNR também recebe denúncias de infrações ambientais através da Linha SOS Ambiente e Território (808 200 520) e divulgou o número de crimes que registou entre 2017 e 2020: há três anos, esta força de segurança passou 19 478 contraordenações correspondentes a 2336 crimes. Recebeu, na altura, um total de 12 094 denúncias. Este ano, até 30 de setembro, já tinha recebido 9821 denúncias, registando 902 crimes e 14 560 contraordenações. Em 2018 houve 13 429 denúncias feitas por este número, que corresponderam a 1282 crimes e a 24 181 contraordenações. No ano passado, os números foram semelhantes, mas um pouco mais baixos: 11 327 denúncias, 1258 crimes e 22 429 contraordenações.

Denunciar infracções ambientais é preciso

É ao Estado que cabe a gestão e o zelo pelo ambiente. Mas cabe-nos a nós, cidadãos, denunciar quaisquer infracções que detectemos no espaço público. Por isso, deve denunciar estas situações, apesar de tudo o que foi dito atrás. Não fazer nada é que terá sempre o mesmo resultado: zero.
Como dissemos, há uma série de entidades que tutelam esta área. Será fácil perder-se no caminho, quando tiver de fazer uma denúncia. Para que isso não aconteça, traçámos um pequeno roteiro.

  • Para o ruído, se for proveniente de actividades desenvolvidas em unidades industriais, deve contactar a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) ou a câmara municipal, ou, ainda, a Direção Regional da Economia e Transportes. Ou todas as entidades…
  • Se o ruído for outro, o produzido por vizinhos no seu prédio, por exemplo, deve dirigir a reclamação ao Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), da GNR, ou à Polícia de Segurança Pública.
  • Mas, se o barulho for proveniente de estabelecimentos de restauração e bebidas, ginásios, míni e supermercados, recintos desportivos, espectáculos e festividades ao ar livre, ou obras, deve contactar a câmara municipal.
  • O problema são resíduos? Dirija-se também à câmara municipal, à CCDR ou ao SEPNA.

Apresentar queixa por descargas de águas residuais

Se presenciou ou foi directamente vítima de descargas de águas residuais no solo ou linhas de água, deve recorrer à câmara municipal (especificamente no caso de águas residuais domésticas ou fossas) e à Administração da Região Hidrográfica (ARH) – serviço desconcentrado da Agência Portuguesa do Ambiente –, ou, novamente, ao SEPNA. Mas, se o problema for com captações, deve apresentar queixa, novamente, à ARH e à CCDR, respectivamente. As mesmas entidades devem ser chamadas se o problema for poluição do ar.

Deve fazer uma descrição pormenorizada da situação que observou, identificar o responsável e a data e o local exato (rua e número da porta, lugar, freguesia e concelho). E se possível, deve acompanhar a sua denúncia com um mapa que localize bem a situação. Os formulários mais claros para que possa entrar em ação são os do SEPNA (disponível em gnr.pt) Pode também tentar contactar este serviço através do número 808 200 520.

Em alternativa, pode recorrer à Igamaot. Embora precise de descobrir, com alguma dificuldade, o link “Denunciar” (encontra-o na página principal, no topo, na opção “Espaço Público”) e tenha, antes de preencher o formulário, de situar à mão, no mapa, a zona onde ocorreu a infracção, o resto do trajecto é relativamente simples.

Difícil controlar e provar infracções ambientais

Resta falar do verdadeiro mundo de graus de intensidade das infrações ambientais, a que corresponde um sem-número de valores de coimas. Mas o problema não é só esse. A lei prevê punir, por exemplo, quem não separa convenientemente os resíduos domésticos para reciclagem. Ou quem abandona pneus na via pública. Estas duas situações brindam o prevaricador com coimas que podem ir dos 200 aos 2000 euros, se resultarem de negligência, ou de 400 a 4000 euros, se forem feitas com dolo (intenção). Ora, já está o leitor a perguntar, e muito bem, como identificar os responsáveis por estas duas infrações – consideradas contraordenações leves – sem ser em flagrante? E como se prova que alguém não separou corretamente o lixo?

As coimas podem chegar, em casos mais graves, até aos cinco milhões de euros, se uma empresa, com dolo, abandonar resíduos a céu aberto ou com injeção no solo ou se utilizar recursos hídricos sem licenciamento, como fazer um furo de água.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Painel de especialistas alerta: alterações climáticas vão colapsar os sistemas de saúde


Dos pequenos Estados insulares às grandes potências, todos os países enfrentam ameaças à saúde humana "que se multiplicam e se intensificam", à medida que que as alterações climáticas propiciam futuras pandemias e tornam cada vez mais prováveis os colapsos dos sistemas sanitários, adianta o quinto relatório anual da Lancet sobre as ligações entre saúde e clima.

Segundo o estudo, o calor extremo, a poluição do ar e a agricultura intensa abrem "as piores perspectivas para a saúde pública que a nossa geração já viu".

O relatório mostra que nas últimas duas décadas houve um aumento de 54% em mortes relacionadas com o calor entre os idosos, tendo ondas de calor extremas provocado a morte de perto de 300 mil pessoas só em 2018.

Embora fenómenos relacionados com o clima, como tempestades tropicais, continuem a ser, por enquanto, os problemas enfrentados pela maioria das nações em desenvolvimento, os autores disseram que o calor extremo já está a causar danos devastadores à saúde nos países mais ricos.

Durante o ano de 2018, só França teve 8000 mortes de idosos relacionadas com o calor, infligindo um custo económico equivalente a 1,3% do PIB naquele ano, concluiu o relatório.

"As ameaças à saúde humana estão a multiplicar-se e a intensificar-se devido às alterações climáticas e, a menos que mudemos de rumo, os nossos sistemas de saúde correm o risco de ficar sobrecarregados no futuro", disse Ian Hamilton, diretor executivo do relatório Lancet Countdown.

O calor e a seca estão a provocar fortes aumentos na exposição humana a incêndios florestais, com 128 países a ver um aumento na população ferida, morta ou desalojada por incêndios desde o início de 2000.

O relatório indica que os aumentos projectados do nível do mar causados ​​por emissões de combustíveis fósseis, agricultura e transportes podem ameaçar deslocar até 565 milhões de pessoas até 2100, expondo-as a uma série de problemas de saúde.

Com mais de nove milhões de mortes a serem atribuídas à fome a cada ano, o painel de especialistas que elaborou o relatório descobriu que a mortalidade ligada ao consumo excessivo de carne vermelha aumentou 70 por cento em apenas três décadas.

O consumo excessivo de carne vermelha foi responsável por pelo menos 13 mil mortes em França em 2017, de quase 90 mil mortes naquele ano atribuíveis à fome.

Os autores alertaram que a urbanização contínua, a agricultura intensiva, as viagens aéreas e os estilos de vida movidos a combustíveis fósseis tornariam pandemias como a de Covid-19 muito mais prováveis no futuro e pediram uma ação urgente para evitar os piores efeitos das alterações climáticas e reduzir o seu impacto como um multiplicador de ameaças à saúde.

COP16: cimeira termina sem acordo sobre formas de financiamento

A conferência das Nações Unidas sobre biodiversidade (COP16) terminou, este sábado, em Cali, na Colômbia, sem que os países participantes ch...